(ô ó)

A terra r(ô)ta r(ó)ta
trás pra dentro o que é de f(ó)ra
e arr(ó)ta

por cima r(ó)da a r(ó)da
que segue a r(ó)ta
e arr(ô)mba a terra r(ô)ta

que r(ó)ta
que de novo arr(ó)ta
pra r(ô)dar a r(ó)da

Junkie Jokes

I've got my coke to kill my brain
and cigarettes to heal my sake
I've got Johnny & Jack always by my side
and a bike to cheer me up

I've got Mary to take me away
and sugar to take away my pain
But you turn my meth into water
and my head into nothing

I love you like a junkie loves heroin
this hangover is killing me.

Leve

(Jovem casal, dividem uma kitnet, ele é músico e dono de uma livraria, ela  fotógrafa)

- Por que não casamos?
- Porque moramos juntos há no mínimo uns 5 anos e isso nunca pareceu relevante ou necessário pro nosso relacionamento.
- E se eu disser que agora decidi que quero entrar numa igreja vestida de noiva antes dos trinta?
- Mas você nem religião tem!
- Só porque eu não acredito em um deus significa que eu não posso ter uma festa bonita? Nós nunca selamos nossa "união", você simplesmente trouxe suas porcarias pra cá quando os negócios na livraria começaram a ir mal. Podiamos fazer um luau em alguma praia, um clima bem bucólico, sabe?
- Você sabe que nada disso é importante. Não sei por que continuar com essas idéias, além disso não podemos bancar nenhuma festa luxuosa, nem viagem pra Veneza.
- Um luau não é nenhuma festa luxuosa. Você não faria isso por mim?
- Para com essa infantilidade, já passamos dessa fase, se você queria ter casado numa praia ou igreja como uma bonequinha de porcelana devia ter escolhido outro cara, essas coisas não são pra mim. Será que você pode uma vez na vida não ter um sonho fabricado pelo sistema? Ninguém precisa de rótulo nenhum pra definir relações e sentimentos.
- Será que pelo menos uma vez na vida você pode não falar sobre conspirações e sistema? Isso já virou um clichê, bem daqueles que você tanto odeia!
- Já estou cansado dessa discussão.
- E eu to cansada dessa atitude de que só devemos fazer o que é produtivo. (diz tirando sarro)  Eu sei que é muito mais satisfatório,  dá muito mais orgulho gastar energia com coisas que terão resultados úteis para a sociedade, por que não discutimos os rumos e tendências da economia contemporânea? Por que não passamos o fim de semana construindo casas pra pessoas menos favorecidas em vez de ir ao cinema? (mudando para um tom sério)É tudo uma questão de consciência, não é? Você quer se redimir porque se vê culpado por algo que acontece há anos na história da sociedade e nunca muda! Já me arrependi de ter dito isso, agora você vai vir com toda uma masturbação mental pra cima de mim, aposto que já tá pensando qual capítulo do Leviatã vai citar.
- Chega!
- Chega? Chega de tentar salvar o mundo 24 horas por dia! Poxa, não dá pra resumir a uma jornada de meio período? Vocês revolucionários de vitrine não têm sindicato não? Que ironia!
- Você está sendo ridícula, eu vou sair pra tomar um trago. (Acende um baseado)
- Não aguento mais esse cheiro de maconha, me dá enjoo e dor de cabeça, você sabe disso!  (Acende um cigarro) Parece até que acender um baseado é pré-requisito pra entrar no clube dos pseudo-intelectuais.
- Você tirou o dia pra me provocar, é isso? Olha tô saindo daqui.
- Pois então saia! E aproveite pra levar todas as suas tranqueiras pra fora da minha casa.
- Sua casa? Eu pago metade do aluguel, tenho tanto direito quanto você de estar aqui.
- Se é assim, saio eu. Não aguento mais esse clima. Você que sempre se gaba por ter uma cabeça aberta, não consegue falar sobre coisas tão simples e banais, não consegue se divertir e fazer coisas normais.
- O que são coisas normais??? Pra mim desperdiçar dinheiro de um semestre numa noite só, cujo ápice é ver seus tios gordos e bêbados não é nada normal, é inclusive idiota. Eu não vou pagar por algo que vai me deixar ainda mais melancólico e deprimido.
- Tudo te deprime, né? Você se acha tão superior! É um arrogante de primeira ordem!
- Olha o sujo falando do mal lavado! Não é você que chega em casa todo dia falando como pode aquelas modelos lindas que você fotografa se colocarem uma pressão tão grande que...
- Chega! Eu sei perfeitamente que eu sou exatamente igual a você! E eu cansei. Não quero mais isso, é muito pesado e não vale a pena. Eu quero entrar numa igreja de branco como uma bonequinha de porcelana imaculada, sim! Quero poder comprar um sapato bonito sem me sentir culpada! Qual o problema nisso?
- Que fixação com casamento! Mas numa coisa você está certa, o clima está pesado por aqui. E quer saber o que mais? Me parece que queremos coisas muito diferentes.
- Por que você não me deixa? Vai procurar alguma menininha de 18 aninhos que ainda acha charmosa essa sua conversinha de salvar o mundo. Sabe o que você faz? Vai morar com ela, e quando ela não aguentar mais esse papinho pedante ela vai fazer exatamente a mesma coisa que eu to fazendo agora e que com certeza alguém já fez antes: vai te deixar pra próxima. Deve ser por isso que homens acabam na maioria das vezes com mulheres mais novas, porque demora mais pra cair a ficha de vocês, as epifânias vêm todas tarde demais!
- Ah, então é esse o problema? Você acha que eu roubei o brilho dos seus idealismos e que sua vida é miserável graças a mim, porque se não fosse por mim você nunca teria tido epifânia nenhuma e seria feliz como toda alienada? Ou pior, seria igual a mim?
- Não é isso, não te culpo por nada. Só estou exausta disso tudo, poxa, a vida não pode ser mais leve?
- Pode, inclusive pode começar agora mesmo a ficar mais leve, que tal acabarmos com essa briga ridícula? Já é a terceira essa semana! O que você tem, hein?
- O que eu tenho? Eu tô grávida, o que eu tenho é um feto no meu útero, mas isso é o de menos comparado ao que eu não tenho. Sabe o que eu não tenho? Um companheiro pra envelhecer comigo e me dar um motivo pra não tirar esse possível futuro ser humano de dentro de mim.
(silêncio por um instante, ele acende um cigarro)
- Você ficou louca? Por acaso passou pela sua cabeça abortar? Você que não mata nem mosquito mataria seu filho? Meu filho!
- Você sabe que eu nunca teria coragem, mas que as vezes passa pela minha cabeça, passa! (começa a chorar discretamente, sem emitir sequer um ruído, apenas algumas lágrimas escapam)
- Você por acaso já ouviu a frase "eu te amo" vinda da minha boca?
- Uma única vez, há uns dois anos, depois da nossa primeira briga.
- E você sabe o significado que isso tem pra mim?
- Mais um discurso pedante sobre como essa frase é banalizada, e que amor não acaba e que é totalmente desnecessário ficar repitindo toda hora, que comprar uma caneca onde isso esteja escrito é o ato mais anti-amor do mundo e blá blá blá!
- (diz carinhosamente) Sua boba, é obvio que eu te amo! Não preciso de nenhum padre, ou cantor de churrascaria anunciando isso pra provar que é verdade, eu sei que é. E no fundo você também sabe.
- Eu não sei se estou mesmo grávida, os resultados ainda não chegaram.
- Eu vou estar com você independente do resultado, e você também sabe disso...a menos que você não queira um pseudo-intelectual pedante ao seu lado, claro.
(Se abraçam) 





O Subsíndico

I. Prefácio

    São três horas da manhã e não consigo dormir. Viro de um lado e nada, viro do outro e nem um pouco de sono. Desisto. Vou até a cozinha, abro a geladeira e bebo um copo de leite frio. Pego meu maço de cigarros e vou para varanda. Reparo nas pouquíssimas janelas acesas, são tão poucas que posso até contá-las nos dedos. Acendo o cigarro. Olho para cima e lá está minha companheira, em sua fase mais bonita. Coloco um disco do Mingus na vitrola.
   Vejo um carro entrando na garagem. Quem será, de onde veio? Talvez eu pegue meu carro e saia rodando por ai. Não saio, acendo outro cigarro. Aos vinte me imaginava a essa altura da vida casado, com filhos e um bom emprego. Porém não só estou sozinho e solitário como ainda tenho uma dívida que me acompanhará até que a morte nos separe. De que me serve um diploma de advogado se só ganho uma merréca com a desgraça de recém-casados divorciados. Me sinto como um abutre, catando cacos de vidro das relações alheias. Mais uma janela se apaga e mais um cigarro eu acendo.

Poema Com Assonância Em U

Tudo muda no último minuto
No último minuto luto no escuro
Luto nú e crú por um bruto mundo

Mundo mudo de cultura
Cúmulo da ditadura corrupta e imunda
Imunda como a rua

Pulo o muro e mudo o rumo
Surge do tumulto o último barulho noturno
o último estúpido impulso
que muda o rumo do mundo